terça-feira, 13 de setembro de 2011

No palácio real

Convém então destilar a arrogância. Não para me jactar dela, mas destilá-la, purificá-la, apresentá-la em sua forma ébria e descontrolada. Isso porque aceito convites, engrosso o caldo e pratico jogos de improviso – jogos com regras a serem escritas; jogos que não conheciam o jogador que sou até a hora derradeira. Como personagem de uma fábula simbolista, aparecer como um mendigo em meio ao mais suntuoso palácio real para destilar algo que só posso ver da minha cegueira. Dizer ao rei que yo sé que no sé nada. Y puedo conjeturar. Así, es posible que quienes te parecen bufones lloren bajo sus máscaras; y es posible que quienes a tu juicio son sacerdotes tengan su verdadero rostro torcido por la alegría de engañarte; de igual modo, ignoras si las mejillas de tus mujeres no son color de ceniza bajo la seda. Y tú mismo, rey de la máscara de oro, ¿quién sabe si no eres horrible a pesar de tu adorno?

“Chegou o Bolaño?”. O pacote, até onde poderia lembrar veio intacto. O livro de Bolaño, não. Somente as dez primeiras páginas e a capa, sem contracapa, mais a primeira orelha que encerra seu texto ao informar do retumbante sucesso que o romance teve nos Estados Unidos e na Europa – o que já havia ficado claro para mim quando Tetro, personagem do melodrama recente de Francis Ford Coppola o lia com algum gosto. Acho. “AM... Seguinte. 10 páginas. Só tem aqui dez páginas. Destroçaram o livro.”. Disso seguiu a explicação curta de que era o que cabia ser lido e que leríamos 10 páginas por vez. Lentamente e que faríamos a exegese do livro assim. Publicaríamos nesse passo. E eu, que nada sei sobre Bolaño, aceitei. Com vistas em me transformar no mendigo da história de Marcel Schwob da minha edição surrada e argentina.






"Leremos? Quem, leremos?" do que seguiu um "peraí! ligo depois" apressado de AMPereira. Tomei o ramalhete de páginas uma vez mais e comecei a ler. Pareceu-me que, na reunião dos críticos por telefone, iríamos fazer algo semelhante e deixar-nos escorrer pela figura de Roberto Bolaño, que só sei de sua magreza, seus cigarros e sua insuficiência hepática mortal.

3 comentários:

  1. Olha,
    Cabe confessar que o prefiro o outro playground, dado o lirismo daquelas palavras.
    Este parque de diversões tem cara de novela, posto que há muitos personagens a serem revelados nas dobras e desdobras apresentados. Pelo menos em meu ponto de vista. Ou um convite a conhecer nomes que se quer sei se existem nesta ou em outra dimensão. De qualquer forma, me divirto lendo um blog a partir do primeiro post. Tem a graça e o sabor de se ler um livro a partir da primeira página. Saúde e prosperidade ao mais novo astro da blogosfera.

    ResponderExcluir
  2. Em primeiro lugar: paciência, caro Arsênio. Em segundo lugar, "o mais novo astro da blogosfera"; oxalá, não.

    Ass: Refrator de Curvelo

    ResponderExcluir
  3. Aliás, Henderson, os nomes que povoam a tela, eu tampouco conheço. O charme, espero, há de estar exatamente aí.

    ResponderExcluir